Exposição nas redes sociais, violência, tristeza, solidão, pressões psicológicas, bullying, falta de perspectiva profissional, situação econômica, emprego precário. Esses e outros problemas, que acometem diversos jovens, podem ter como consequência o suicídio. Em Mato Grosso do Sul, 134 pessoas de 15 a 29 anos tiraram a própria vida no ano passado, o que equivale a 39% dos casos no período. O assunto, que precisa ser falado constantemente, adquire relevância maior neste mês, em que acontece a campanha Setembro Amarelo.
Realizada há quase dez anos, a campanha foi instituída pela Lei Estadual 4.777/2015 , de autoria da deputada Mara Caseiro (PSDB). “A campanha Setembro Amarelo, que ocorre anualmente, tem desempenhado um papel crucial na prevenção do suicídio, especialmente entre os mais jovens”, afirma a parlamentar. As ações preventivas e de sensibilização, que se intensificam neste mês, são fundamentais para o enfrentamento do problema, que ainda apresenta estatísticas alarmantes.
De acordo com o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde (MS), 342 sul-mato-grossenses cometeram suicídio em 2023. Esse número considera as mortes decorrentes de lesões autoprovocadas voluntariamente (X60 a X84 da CID-BR-10). Os casos se concentram na faixa etária de 15 a 29 anos: 134 ou 39% do total. Ou seja, praticamente quatro de cada dez suicídios, registrados em Mato Grosso do Sul, são cometidos por jovens.
Os dados do Ministério da Saúde também mostram que, em sua maioria, os jovens sul-mato-grossenses que tiram a própria vida são do sexo masculino. Eles representaram 78,3% (105) dos casos de 2023; e elas, 21,6% (29). O suicídio também é um problema relativo à raça. Em relação ao recorte étnico-racial, os negros (pretos e pardos) respondem por mais da metade dos registros: foram 70 os casos ou 52,23% do total.
E por que os casos de suicídios predominam entre os jovens?
O psicólogo Walkes Jacques Vargas, presidente do Conselho Regional de Psicologia – 14ª Região (CRP-14/MS), afirma ser necessário considerar a complexidade do mundo atual e a multiplicidade de fatores, agravados pela pandemia da Covdi-19. “A atual geração de jovens recentemente passou pela emergência da pandemia de Covid-19 e hoje vivencia a falta de perspectiva no futuro”, disse.
Problemas diversos, como socioeconômicos, deixaram os jovens desesperançados, conforme analisa Vargas. “A juventude é uma das populações mais afetadas pelo crescimento das desigualdades sociais, sendo condicionada cotidianamente ao desemprego, ao subemprego, a virtualização da vida, ao trabalho plataformizado, a violência e risco de morte. Essa sensação de desesperança combinada com o preconceito e medo de falar sobre os sofrimentos ou mesmo o não acesso aos serviços de saúde podem agravar ainda mais a situação”, comentou.
De acordo com o presidente do CRP, também é preciso considerar a baixa oferta de serviços de saúde específicos para atendimento dos jovens e a falta de abertura da sociedade para acolher as manifestações de sofrimento. Outro problema, observado por Walkes Vargas, é o “não cumprimento da lei 13.935 que insere profissionais de Psicologia e Serviço Social nas escolas, que poderia contribuir muito para a prevenção e posvenção ao suicídio”.
Para prevenir a ocorrência de problemas que podem resultar em suicídio, é preciso não ignorar nem menosprezar o sofrimento dos jovens, segundo analisa Vargas. “Geralmente toda queixa de angústia e sofrimento vinda de adolescentes e jovens pode ser vista por amigos e familiares como uma forma de ‘chamar atenção’. Um princípio a ser adotado é sempre acolher qualquer manifestação de dor ou sofrimento sem preconceitos ou julgamentos”, orientou.
Para construir essa cultura do acolhimento, é preciso falar do problema, quebrar o silêncio. E essa é uma das importantes contribuições do Setembro Amarelo, conforme avaliação da deputada Mara Caseiro. “Um dos principais méritos da campanha é a quebra de tabus. Falar sobre suicídio ainda é um desafio em muitas sociedades, e o Setembro Amarelo cria um espaço seguro para que este tema seja abordado de forma aberta e informada”, comentou a parlamentar.
A deputada Mara Caseiro também ressaltou a necessidade de atenção especial aos jovens. “A campanha ganha especial relevância entre os jovens”, disse a deputada. “Essa faixa etária enfrenta desafios únicos, como pressões sociais, psicológicas, acadêmicas e a constante exposição nas redes sociais, fatores que podem aumentar a vulnerabilidade emocional”, completou a parlamentar.
Ela informou, ainda, que vai apresentar, durante este mês, projeto de lei que cria o “Alerta Amarelo”, programa de atenção à saúde mental com ações voltadas a adolescentes e jovens nas escolas.
Outras leis
À lei que instituiu o Setembro Amarelo somam-se outras normativas estaduais, apresentadas e aprovadas pelos parlamentares da ALEMS. Entre elas, está a Lei 5.448/2019 , de autoria do ex-deputado Marçal Filho. A lei determina a afixação de cartaz informando o telefone 188, do Centro de Valorização da Vida, nos espaços públicos, em local de fácil visualização. A mensagem no cartaz, de acordo com a lei, deve ser: “CVV. Como vai você? Ligações de prevenção do suicídio feitas para o CVV pelo número 188.”
Outra normativa que ajuda no enfrentamento do problema é a Lei 5.483/2019 , de autoria do deputado Antonio Vaz (Republicanos), que instituiu a “Semana de Prevenção e Combate à Violência Autoprovocada: Automutilação e o Suicídio”. Essa campanha é realizada anualmente, com início no segundo domingo de setembro.
A legislação estadual de prevenção ao suicídio inclui, ainda, a Lei 5.598/2020 , do deputado Lidio Lopes (Patriota). A lei obriga os estabelecimentos de ensino e de saúde, públicos e privados, a notificarem às autoridades públicas competentes a prática de violência autoprovocada, automutilação e tentativa de suicídio de que tomarem conhecimento.
Livro digital
Depressão em crianças e adolescentes, um dos problemas relacionados ao suicídio é tema do livro “Para onde vai o buraco quando o tatu fica feliz?”, publicação da Comunicação Institucional da ALEMS.
Em uma linguagem voltada ao público infantojuvenil, o livro usa o buraco como metáfora das ausências, do isolamento, da depressão. O material faz parte da coleção “Cidadania é o bicho”, que trata sobre variados temas, usando como personagens animais do Pantanal.
Para acessar o livro “Para onde vai o buraco quando o tatu fica feliz?”, clique aqui . Para ter acesso a todos os livros da coleção, clique aqui .
Serviço:
Veja alguns locais e entidades que podem ajudar na prevenção ao suicídio:
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) - veja a relação das unidades .
Centro de Valorização da Vida (CVV) - atendimento gratuito pelo telefone 188.
Grupo Amor Vida (GAV) - oferece apoio emocional de forma gratuita.
As universidades também oferecem atendimento psicológico gratuito:
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